Claro que o
depois ainda está para vir. Mas desconfio que as consequências serão
desastrosas para o futuro deste pequeno país, tendo em conta o que tem sido
este “durante” do Miguel Gonçalves.
Confesso, em
primeiro lugar, que admiro o rapaz. Não é, certamente, aquela admiração
luminosa que nutro, por exemplo, por um gajo como Ricardo Araújo Pereira (RAP).
Mas, no fundo, admiro a forma como o Miguel Gonçalves debita banalidades a uma
velocidade doentia, recebendo aplausos por isso. Claro que há muita gente capaz
até de aplaudir um mongolóide a declamar poemas do Manuel Alegre, mas mesmo
assim...
Os portugueses
são, na sua generalidade, ignorantes. Não vem mal ao mundo, por isso. Veja-se
onde chegaram pessoas como Miguel Relvas, exemplo máximo de que Portugal é, de
facto, um país de oportunidades, onde até o mais insensato, mentiroso e calão
tem a sua fortuna.
Voltando à
ignorância, Miguel Gonçalves abraça-a. Não porque faça um uso extremo dela, mas
sim porque a envolve nos seus discursos, enviando-a posteriormente às cabeças
ocas de quem o escuta, aplaude e venera. Deve doer.
Eu sinto-me
sempre incomodado quando vejo este rapaz a falar. A sério. Diz o Miguel, numa
das suas inenarráveis prestações: “Sei bem o que fazer para agarrar a maçã com força e dar a volta por cima”.
Não conhecia esta expressão, confesso. Mas, o curioso nisto tudo é que o Miguel
também não.
Agarrar uma maçã
com força é uma metáfora estúpida. Porquê uma maçã? Porque não um ananás?
Porque fazia dói-dói, era? Mas isso é que é de valor. Agarrar com força um
ananás, até fazer sangue nas mãos e depois, sim, dar a volta por cima.
Dar a volta por
cima depois de apertar com muita força uma maçã não me parece nada de
extraordinário. Toda a imagem é idiota, não é? Um gajo está numa situação
complicada, e enfrenta a coisa com bravura, apertando uma maçã, com força, ao
mesmo tempo que se capacita que vai ser capaz de vencer. Isto não é
motivacional. Isto é uma patetice. Cagar um coco, sim. É uma imagem de
valentia, de sofrimento.
O Miguel diz
também que “não percebe nada de política” e, talvez por isso, o outro Miguel, o
Relvas, decidiu convidar este orador de balelas para desempenhar o cargo de
embaixador do Programa Impulso Jovem.
Mas não pensem
que esta distinção foi feita com o mesmo acaso com que Relvas fez o seu curso
superior. Diz o ministro: “O discurso de Miguel Gonçalves vai ser mobilizador. Cada jovem com sucesso
serve de exemplo para multiplicar”.
Ora aí está. O
efeito multiplicador. Foda-se, andaram anos e anos a inventar políticas de
emprego, a investir milhões em programas de incentivo e tudo se resolverá
através da multiplicação. Imaginam um país com milhares de Miguéis Gonçalves?
Imaginam o cheiro a suor? Imaginam a catrefada de dislates que teriam de
suportar?
O Miguel não
percebe nada de política mas associa-se a um governo que tem delapidado o
tecido empresarial do país. O Miguel não percebe nada de política mas está
disponível para colaborar com um governo que é o principal responsável pela
maior taxa de desemprego de sempre. Conclusão rápida: talvez o pobre do Miguel
devesse perceber alguma coisa de política, mas isso seria, talvez, demasiado
complexo.
Aliás, o Miguel é
um aventureiro e, pior, um mentiroso. Bem, talvez mentiroso seja forte demais.
Não, não é. Vejamos: diz este engodo que não o convence o argumento da falta de dinheiro para pagar propinas. Ou
seja, para o Miguel Gonçalves, só não tira um curso superior quem não quiser. E
a explicação/teoria apresentada para sustentar esta ideia é brutal. Em
estupidez.
Preparados? Cá vai
alho: “Eu paguei as minhas propinas a trabalhar. Estudar em Portugal não é como
em Stanford, que custa 45 mil euros por ano. A um jovem estudar custa 1.200 ou
1.300 euros por ano, são 100 euros por mês”.
Retiveram?
Staaanford. Ele vai lá fora, ele conhece o universo, ou lá porque se apresenta
sempre com um colete ridículo vestido e uns ténis seis números acima, julgam
que o rapaz é algum ignorante? Sim, é.
A verdade é que
estudar neste país liderado por aventesmas custa, em média, cerca de 6 mil
euros no ensino superior público e +60% no ensino superior privado. Mas o
Miguel, como é falacioso e “motivador”, quase que convence as pessoas que só
não estuda quem não quer.
Esta falta de
respeito pela coerência, pela seriedade, é o mais me irrita no Miguel. Por
muito que queiramos motivar os outros, não podemos mentir-lhes e isso, na minha
opinião, é imperdoável. É feio.
As pérolas deste
senhor são infindáveis. Ao lê-las, ri-me quase tanto como quando li o acórdão
do processo da Casa Pia.
Ainda sobre esta
coisa de ser difícil tirar um curso, exemplifica o douto Miguel: “É um mito.
Até a vender pipocas no centro comercial se arranja dinheiro para pagar 100
euros por mês”. Pronto. Foda-se. O outro resolve tudo com o poder da
multiplicação, este vai lá com pipocas meio sal, meio açúcar.
Escusado será
dizer que, tendo em conta o real valor que é necessário para se tirar um curso,
alguém que o queira fazer, e seguindo esta ideia peregrina das pipocas do
Miguel, basta que trabalhe todos os dias, oito horas por dia, a empacotar.
Isto, claro, se for no público. Se for no privado o melhor é arranjar um cargo
tipo “director” bem remunerado. Não sei é se sobra muito tempo para estudar, mas
se fizer como o Miguel, não dorme (e acorda já transpirado, porque o Miguel é
um sagaz criativo – definição que os nossos órgãos de comunicação social deram à figura).
E o que dizer do
nível de português do Miguel? Arranha, vá. Entre calinadas, frases feitas e
outras sem sentido, adiciona aquele sotaque bacoco, muitas vezes forçado apenas
para dar “graça” às suas afirmações. O homem não sabe falar, caralho!
Segundo percebi, o
ministro Relvas descobriu o Miguel no Youtube. Eu acho que o Miguel foi
descoberto numa loja do chinês e vendido ao Youtube. Só pode. Adiante.
Mas Miguel
Gonçalves não é apenas mau na oratória. Visualmente, identifico-o mais como um
chunga-trendy, e aquele ar pouco
polido (pouco lavado, na verdade) faz-me sempre acreditar que tresanda a alho
da boca. Sim, mas o que é que isso interessa? Não devemos julgar as pessoas
pela embalagem. Mas não é o próprio Miguel que sugere que somos todos um
produto e que é preciso sabermos vender-nos? Como “produto”, para mim, o Miguel é
como se viesse embrulhado em folhas de jornal muito velho, pronto.
No fundo, este
Miguel é um engatatão do empreendedorismo. Sabem como é que ele começa algumas
das suas delirantes actuações? Assim: “Já pensaram bem na palavra
‘empreendedor’? Já viram como termina? Termina em ‘dor’, porque isto não é nada
fácil”. Brilhante.
1 comentário:
LOOOOOOOOOOOL a bacocada da Migueladaaaa! Adorei o post! Não vou conseguir parar de rir!
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