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quarta-feira, 3 de abril de 2013

Miguel-Miguel.

Hoje, volto a abrir uma excepção e dedico umas linhas a um assunto em nada relacionado com a corrida. Vou falar-vos do Miguel Gonçalves, mais conhecido por “bater punho”, alcunha que ganhou quando fez a sua primeira aparição num canal televisivo. Desde esse momento, no entanto, Portugal nunca mais foi o mesmo. Sustento mesmo a teoria de que existe uma história de Portugal antes do Miguel Gonçalves, e uma história de Portugal depois do Miguel Gonçalves.

Claro que o depois ainda está para vir. Mas desconfio que as consequências serão desastrosas para o futuro deste pequeno país, tendo em conta o que tem sido este “durante” do Miguel Gonçalves.

Confesso, em primeiro lugar, que admiro o rapaz. Não é, certamente, aquela admiração luminosa que nutro, por exemplo, por um gajo como Ricardo Araújo Pereira (RAP). Mas, no fundo, admiro a forma como o Miguel Gonçalves debita banalidades a uma velocidade doentia, recebendo aplausos por isso. Claro que há muita gente capaz até de aplaudir um mongolóide a declamar poemas do Manuel Alegre, mas mesmo assim...

Os portugueses são, na sua generalidade, ignorantes. Não vem mal ao mundo, por isso. Veja-se onde chegaram pessoas como Miguel Relvas, exemplo máximo de que Portugal é, de facto, um país de oportunidades, onde até o mais insensato, mentiroso e calão tem a sua fortuna.

Voltando à ignorância, Miguel Gonçalves abraça-a. Não porque faça um uso extremo dela, mas sim porque a envolve nos seus discursos, enviando-a posteriormente às cabeças ocas de quem o escuta, aplaude e venera. Deve doer.

Eu sinto-me sempre incomodado quando vejo este rapaz a falar. A sério. Diz o Miguel, numa das suas inenarráveis prestações: “Sei bem o que fazer para agarrar a maçã com força e dar a volta por cima”. Não conhecia esta expressão, confesso. Mas, o curioso nisto tudo é que o Miguel também não.

Agarrar uma maçã com força é uma metáfora estúpida. Porquê uma maçã? Porque não um ananás? Porque fazia dói-dói, era? Mas isso é que é de valor. Agarrar com força um ananás, até fazer sangue nas mãos e depois, sim, dar a volta por cima.

Dar a volta por cima depois de apertar com muita força uma maçã não me parece nada de extraordinário. Toda a imagem é idiota, não é? Um gajo está numa situação complicada, e enfrenta a coisa com bravura, apertando uma maçã, com força, ao mesmo tempo que se capacita que vai ser capaz de vencer. Isto não é motivacional. Isto é uma patetice. Cagar um coco, sim. É uma imagem de valentia, de sofrimento.

O Miguel diz também que “não percebe nada de política” e, talvez por isso, o outro Miguel, o Relvas, decidiu convidar este orador de balelas para desempenhar o cargo de embaixador do Programa Impulso Jovem.

Mas não pensem que esta distinção foi feita com o mesmo acaso com que Relvas fez o seu curso superior. Diz o ministro: “O discurso de Miguel Gonçalves vai ser mobilizador. Cada jovem com sucesso serve de exemplo para multiplicar”.

Ora aí está. O efeito multiplicador. Foda-se, andaram anos e anos a inventar políticas de emprego, a investir milhões em programas de incentivo e tudo se resolverá através da multiplicação. Imaginam um país com milhares de Miguéis Gonçalves? Imaginam o cheiro a suor? Imaginam a catrefada de dislates que teriam de suportar?

O Miguel não percebe nada de política mas associa-se a um governo que tem delapidado o tecido empresarial do país. O Miguel não percebe nada de política mas está disponível para colaborar com um governo que é o principal responsável pela maior taxa de desemprego de sempre. Conclusão rápida: talvez o pobre do Miguel devesse perceber alguma coisa de política, mas isso seria, talvez, demasiado complexo.

Aliás, o Miguel é um aventureiro e, pior, um mentiroso. Bem, talvez mentiroso seja forte demais. Não, não é. Vejamos: diz este engodo que não o convence o argumento da falta de dinheiro para pagar propinas. Ou seja, para o Miguel Gonçalves, só não tira um curso superior quem não quiser. E a explicação/teoria apresentada para sustentar esta ideia é brutal. Em estupidez.

Preparados? Cá vai alho: “Eu paguei as minhas propinas a trabalhar. Estudar em Portugal não é como em Stanford, que custa 45 mil euros por ano. A um jovem estudar custa 1.200 ou 1.300 euros por ano, são 100 euros por mês”.

Retiveram? Staaanford. Ele vai lá fora, ele conhece o universo, ou lá porque se apresenta sempre com um colete ridículo vestido e uns ténis seis números acima, julgam que o rapaz é algum ignorante? Sim, é.

A verdade é que estudar neste país liderado por aventesmas custa, em média, cerca de 6 mil euros no ensino superior público e +60% no ensino superior privado. Mas o Miguel, como é falacioso e “motivador”, quase que convence as pessoas que só não estuda quem não quer.

Esta falta de respeito pela coerência, pela seriedade, é o mais me irrita no Miguel. Por muito que queiramos motivar os outros, não podemos mentir-lhes e isso, na minha opinião, é imperdoável. É feio.

As pérolas deste senhor são infindáveis. Ao lê-las, ri-me quase tanto como quando li o acórdão do processo da Casa Pia.

Ainda sobre esta coisa de ser difícil tirar um curso, exemplifica o douto Miguel: “É um mito. Até a vender pipocas no centro comercial se arranja dinheiro para pagar 100 euros por mês”. Pronto. Foda-se. O outro resolve tudo com o poder da multiplicação, este vai lá com pipocas meio sal, meio açúcar.

Escusado será dizer que, tendo em conta o real valor que é necessário para se tirar um curso, alguém que o queira fazer, e seguindo esta ideia peregrina das pipocas do Miguel, basta que trabalhe todos os dias, oito horas por dia, a empacotar. Isto, claro, se for no público. Se for no privado o melhor é arranjar um cargo tipo “director” bem remunerado. Não sei é se sobra muito tempo para estudar, mas se fizer como o Miguel, não dorme (e acorda já transpirado, porque o Miguel é um sagaz criativo – definição que os nossos órgãos de comunicação social deram à figura).

E o que dizer do nível de português do Miguel? Arranha, vá. Entre calinadas, frases feitas e outras sem sentido, adiciona aquele sotaque bacoco, muitas vezes forçado apenas para dar “graça” às suas afirmações. O homem não sabe falar, caralho!

Segundo percebi, o ministro Relvas descobriu o Miguel no Youtube. Eu acho que o Miguel foi descoberto numa loja do chinês e vendido ao Youtube. Só pode. Adiante.

Mas Miguel Gonçalves não é apenas mau na oratória. Visualmente, identifico-o mais como um chunga-trendy, e aquele ar pouco polido (pouco lavado, na verdade) faz-me sempre acreditar que tresanda a alho da boca. Sim, mas o que é que isso interessa? Não devemos julgar as pessoas pela embalagem. Mas não é o próprio Miguel que sugere que somos todos um produto e que é preciso sabermos vender-nos? Como “produto”, para mim, o Miguel é como se viesse embrulhado em folhas de jornal muito velho, pronto.

No fundo, este Miguel é um engatatão do empreendedorismo. Sabem como é que ele começa algumas das suas delirantes actuações? Assim: “Já pensaram bem na palavra ‘empreendedor’? Já viram como termina? Termina em ‘dor’, porque isto não é nada fácil”. Brilhante.

Para terminar, resta-me dizer o seguinte: esta dupla de Miguéis é aterrorizante e eu vou continuar a “correr” até conseguir fugir disto tudo.

1 comentário:

Rita Carvalhal Ferreira disse...

LOOOOOOOOOOOL a bacocada da Migueladaaaa! Adorei o post! Não vou conseguir parar de rir!