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segunda-feira, 25 de março de 2013

23ª Meia-Maratona EDP - como foi.

O dia começou relativamente bem, apesar de não ter dormido muito. Levantei-me sem dificuldades e a adrenalina fez o resto. Nunca estive nervoso, nem ansioso. Foi uma grande diferença para a primeira Meia-Maratona que fiz em Dezembro passado.

Como a partida era a 10 minutos a pé da minha casa, só desci às 10h00 (mesmo à Lorde). Encontrei-me com o S., e demos início à coisa. 15 minutos depois estávamos a passar as portagens.

Primeiro aspecto positivo: a confusão era controlada, apesar das 40 mil pessoas que estavam na zona. As partidas estavam divididas e a malta da Meia-Maratona não se cruzava com a malta da Mini. O resultado foi que pude chegar-me à frente e arrancar com uma diferença de poucos segundos desde o tiro de partida até à linha de partida.

Segundo aspecto positivo: a confusão no tabuleiro praticamente não existiu. Havia espaço entre os participantes e não vi nenhum incidente, sequer. Aproveitei para saborear a oportunidade de atravessar o tabuleiro da Ponte 25 de Abril, e olhar para o Rio Tejo e para a cidade de Lisboa, de um prisma bem diferente do habitual.

Havia pouco vento e, apesar de não haver muito Sol nesta altura, estava um dia perfeitinho para correr os 21 Km. Nesta fase, já ia sozinho. O S. é muito mais rápido do que eu e decidimos que cada um de nós iria ao seu ritmo.

Cheguei ao fim da Ponte e entrei na descida para Alcântara (com uma ligeira subida antes, a única do percurso). Estava a sentir-me muito bem e parecia que a corrida ainda nem tinha começado. A descida, bastante íngreme, era propícia a ritmos elevados, o que evitei ao máximo. Primeiro, por receio de me lesionar, segundo, porque prefiro manter o ritmo “real”, em vez de aproveitar o embalo e depois pagar por ele mais à frente.

Basicamente, nesta fase, fui ultrapassado por toda a gente. Obviamente que, mais tarde, pagaram caro o ritmo que adquiriram naquela descida e nos quilómetros seguintes.

A entrada na 24 de Julho foi pacífica, estava tranquilo, na respiração e nas pernas. Sabia onde era o retorno e controlei esse facto emocionalmente. O ritmo, segundo o meu Android da tanga, era à volta dos 5:30. Sabia que estava a arriscar um bocado mas foi mais forte do que eu. Fui avançando e, no Cais Sodré, aproveitei o abastecimento de água. Gosto bastante de passar nesta zona. Está cheia de gente, há palmas e palavras de incentivo, há o Rio e os barcos, que tantas vezes me transportaram de uma margem para a outra.

Houve alguma acumulação de atletas, mas nada de especial. Dei a volta e comecei a pensar nos quilómetros. Uns 10, já feitos. Faltam 11 e sinto-me muito bem. Perto de Alcântara, a primeira chuva. Soube bem e não minto se disser que parece ter aparecido propositadamente: demorou o tempo certo e caiu na intensidade certa. Obrigado.

Por volta dos 12 Km, o primeiro contra-tempo: o meu Android, da tanga, parou. Parecia, até, meio morto. Que merda, pá! Detesto não ter o controlo do meu ritmo, do tempo, dos quilómetros. Senti-me bastante frustrado e comecei a senti-me cansado.

Na antiga FIL, novo abastecimento, mais um bocado de água. Estava no quilómetro 13. Não sei se por azar, mas a verdade é que as forças começaram a faltar-me. Estar sozinho não ajudou e passei a concentrar-me, quase em exclusivo, nas dores que sentia nas pernas, nos joelhos, nas costas.

Foram quilómetros muito complicados para mim. A música já me cansava e o cabrão do diabinho começou a encher-me a cabeça com pensamentos do estilo “és um fraco, vais parar”, “falta imeeeeeeenso tempo, não vais aguentar” ou “as tuas pernas vão rebentar, tu vais rebentar”. Andei nisto cerca de cinco quilómetros. E com vento contra.

Ao quilómetro 16 senti-me ligeiramente melhor. Contudo, e por não saber exactamente onde se daria o retorno na zona de Algés, penei à grande durante cerca de mil e quinhentos metros. Achava que era “já ali”, e nunca era. Para adensar ainda mais a minha luta vi, no sentido oposto da estrada, abastecimentos de água, powerade e bananas. Uma tortura.

O meu ritmo, em toda esta fase tinha diminuído um bocado e comecei a pensar que seria difícil baixar das duas horas. Mas caguei para isso, não era importante.

Combater a solidão foi, de facto, muito complicado para mim. Foi uma luta constante durante muito tempo, que me desgastou, principalmente, a nível psicológico. Sem poder controlar o meu ritmo achei que ia bastante devagar. Contudo, cruzei os 18 quilómetros por volta da 1h42 e animei-me. Andava à volta dos 5:50 por Km, nesta fase.

Já no retorno, a caminho da meta. Por esta altura, o diabinho afogava-se dramaticamente nas águas sujas do Tejo. Cada um tem o que merece.

Eu, apesar de cansado, soube então que iria vencer. É a parte que mais gosto: quando percebo que não vou falhar, que faltam apenas uns quilómetros que não me vão custar a fazer, tal é a vontade. Dá-me um arrepio e digo “foda-se, caralho! Vou conseguir, e na boa”! É verdade: nestas alturas sinto-me revigorado, esqueço-me do que já sofri e acho sempre que afinal, até se fez bem.

Passo os 20 Km com 1h53. Porreiro. Só uma hecatombe me impedirá de baixar as duas horas de prova. Aumento ligeiramente o ritmo. Entro na recta da meta e procuro o relógio. Só vejo aquilo nos 59 minutos e desato a sprintar. Seria catastrófico ver aquilo a rodar para os 00 das duas horas.

Terminei satisfeito. Pouco dorido, nada ofegante e vencedor de mim mesmo. É uma boa sensação. Apesar da vitória, esta prova foi, para mim, a mais difícil de todas. Correr 21,1 Km sozinho é difícil e facilmente podemos tornar-nos no nosso pior inimigo. As distrações são poucas e o foco anda sempre muito perto das dores, das dificuldades, aumentando o desânimo e diminuindo a força.

Mas, ao mesmo tempo, é um teste à nossa capacidade de sofrimento (ok, não é o mesmo do que passar fome, nem sequer do que chegar ao fim do mês e ter de contar os tostões, como o nosso caríssimo Presidente da República) e à nossa força de vontade.

A organização foi razoável. Falharam na minha inscrição, na t-shirt e, no final, no saco com uma garrafa de água e um iogurte (?) que estava aberto, sujando aquilo tudo e inutilizando o saco. A chegada podia ter sido mais fluida. Aqueles minutos de espera são chatos – mas percebo, era muita gente.

Em relação aos abastecimentos, foram suficientes e variados. Apenas dois reparos: podiam ser mais extensos (na mesma quantidade mas durante mais metros, em vez de estarem tão concentrados em pouco espaço) e a fruta podia estar dois quilómetros antes (estava aos 19 Km, se não me engano, é demasiado tarde).

O percurso é naturalmente bonito. Passar a Ponte é de facto uma experiência à maneira e o facto de ser sempre plano ajuda a bons resultados. Contudo, foi mais difícil do que pensava.

E pronto. Foi isto.

8 comentários:

luizz disse...

Legal Luís
Meus parabéns pela conquista.
Realmenet passar 21 km, quase duas horas no limite e "sozinho" não é para qualquer um

Um grande abraço e sucesso nas próximas também.

Anónimo disse...

Obrigado, Luiz! E vêm aí muitas!

Ricardo disse...

Vais comprar um Garmin?

Anónimo disse...

Achas que vou estoirar 300 euros num relógio? Para isso comprava um iphone :)

Pheidippides disse...

Em 490 AC, corri de Marathon até Atenas sem relógio nem GPS. Vocês agora correm como uma menina! Toca mas é a mexer esses c*s de chumbo!!!

Ricardo disse...

Luís, um garmin compra-se por menos de metade. :)

Pheidippides, sem o GPS qualquer pessoa se perde na imensidão do parque da paz. Para além disso, é necessário chegar a casa às 20h, para comer a paparoca a tempo e horas...

Filipe Gil disse...

Belo report. Excelente prova. A "volta" em Algés nunca mais chegava, também me senti mal por aí...

Anónimo disse...

Obrigado! :)

Foi a parte mais complicada, mesmo. Espero que tenhas terminado bem.

Abraço